Bono é entrevistado pela revista Rolling Stone

O líder do U2 fala sobre a situação da banda, a situação do mundo e o que aprendeu ao quase morrer
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Em 1985, pouco depois de o U2 estourar nos Estados Unidos, a Rolling Stone o chamou de “a banda dos anos 1980”. Ao longo de 30 anos e 16 matérias de capa, a revista formou uma relação profunda com o U2. O novo álbum do grupo, Songs of Experience, estreou no topo das paradas em dezembro, o que significa que o U2 tem um disco número 1 em cada década desde os anos 1980.

Entrevistei Bono pela primeira vez em 2005, quando conversamos durante dez horas em um fim de semana prolongado em Cancún, no México, começando um diálogo íntimo sobre rock, justiça social, fé e o propósito da arte. Esta entrevista parte de onde aquela terminou, embora desta vez as circunstâncias sejam totalmente diferentes. A eleição de Donald Trump e uma onda crescente de fascismo na Europa abalaram Bono, bem como o acidente quase fatal que sofreu enquanto fazia Songs of Experience. Embora ainda ache difícil falar sobre o “evento de extinção”, como chama o ocorrido, ele confessou o efeito profundo que isso teve no novo disco e na própria vida.

Fizemos a entrevista em duas sessões à mesa da cozinha de meu apartamento em Nova York, quase vizinho ao que Bono mantém na cidade. Ao vivo, ele é simpático, envolvente e atencioso, mesmo enquanto discute assuntos difíceis. O que é nítida, mais do que tudo, é sua ambição, que queima como nunca. O U2 continua faminto – por novas abordagens à composição, por encontrar seu lugar na era do streaming, por uma nova turnê. Bono continua jorrando energia em causas globais, encontrando líderes mundiais e trabalhando em nome de sua ONE Campaign, que luta contra a pobreza extrema. É o mais raro dos astros do rock – um artista e um ativista em proporções iguais. Como sempre, continua otimista. E um dos melhores conversadores do rock, cheio de sagacidade, franqueza e poesia.

Vocês acabaram de sair da turnê Joshua Tree. Nostalgia é algo que o U2 gosta de evitar, então como foi subir ao palco e tocar um álbum antigo toda noite?

A postura que adotamos era [agir] como se tivéssemos lançado The Joshua Tree na semana anterior. Então não havia nenhum filme antigo em Super-8 ou nada para dar a sensação daquele tempo. Sentimos que a força estava em ter significado, talvez ainda mais agora do que na época. Essa foi a imagem e ficou cada vez melhor. Terminamos com quatro shows em São Paulo, diante de, acho, quase 300 mil pessoas, e foi um belo clímax.

Só que, para ser honesto – e provavelmente devo ser nesta entrevista –, ainda não me recuperei totalmente. Eu me entreguei a cantar de novas formas, mas não saímos muito para conhecer os lugares onde tocamos, algo que amo fazer. Entrar nas músicas foi mais trabalhoso do que achei que seria. Elas são muito exigentes em termos de – qual é a palavra mesmo... franqueza emocional. E depois nos preparamos para Songs of Experience. Toda aquela promoção dá muito mais trabalho do que lembrava, mas se você acredita nas músicas, precisa defendê-las e apresentá-las.

Número 1 na parada de discos, o que significa que vocês tiveram um álbum no topo das paradas em cada década desde os anos 1980. Por que ainda trabalham tanto para ter hits?

Sabe, não é para todo mundo – e não pode ser para nós o tempo todo. Simplesmente pareceu ser a coisa certa. Estes dois álbuns mais recentes misturam o pessoal e o político para que você não saiba com quem está falando. É uma espécie de truque de mágica, a percepção de que é claro que todos os problemas que encontramos no mundo externo são apenas manifestações do que carregamos em nossos mundos interiores. O maior filho da puta, o maior idiota, o maior machista que podemos ser, o mais egoísta, maldoso, enganador, você verá todos esses personagens no espelho. E é aí que o trabalho de transformação precisa começar. Não é isso o que a experiência nos diz?

Como você imaginou Songs of Experience com relação a Songs of Innocence, álbum complementar que saiu em 2014?

Eu já tinha esta ideia de você mais jovem conversando com você mais velho há algum tempo. É um recurso dramático interessante. [Há vários anos] eu estava em uma exposição de fotos do Anton Corbijn em Amsterdã e alguém me perguntou o que eu diria para esta foto. Acho que era uma imagem minha aos 22 anos. Pensei nisso e disse: “Pare de duvidar de si mesmo. Você está certo”. Então a pessoa perguntou o que o eu mais jovem diria ao eu mais velho. Fiquei um pouco nervoso. Não tinha certeza. Entendi essa hesitação como uma pista de que talvez não estivesse à vontade com o lugar onde estou agora. Comecei a perceber que tinha perdido parte daquela ardência. Parte daquela clareza, daquele ponto de vista em preto e branco.

Agora, parece que você está em um lugar totalmente diferente. Parece que você tem mais clareza, que aprendeu mais.

Estou menos inseguro quanto a assumir riscos políticos ou sociais. Quando virei ativista, as pessoas falaram: “Sério?”, mas acabaram aceitando. Depois, comecei a me interessar por comércio e pelas engrenagens do que fazia as pessoas saírem da pobreza e prosperar. Então, algumas pessoas disseram: “Você não pode falar disso, pode?” Respondi: “Se você é um artista, deve falar disso”. Eu e você tivemos esta conversa ao longo dos anos: o que o artista pode fazer? O que o artista não tem permissão para fazer, há limites? Agora, diria para meu eu mais jovem: “Experimente mais e não deixe as pessoas te enquadrarem. Não há nada que você não possa usar se isso fizer parte da vida”. Temos esta ideia na cultura que surgiu dos anos 1960 e 1970 de que os artistas estavam, ou deveriam estar, acima da luta comum.

Que eles têm uma desculpa para não participar.

Eu tinha uma desculpa para não participar, mas sabia que algumas pessoas com emprego comum são tão valiosas quanto os artistas, talvez mais. E há mais babacas por metro quadrado entre nós, artistas. Lembro que conheci Björk e ela contou que, na Islândia, fazer uma cadeira é algo importante. Tipo, uma música não tem mais importância do que uma cadeira. Falei: “Bom, dependendo da cadeira, os irlandeses sabem que isso é verdade”. Então, se isso é verdade, pare com esta besteira de que um artista é uma pessoa elevada.
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Este disco parece ser sobre a sobrevivência. A sobrevivência do mundo e de nosso sistema político, mas vamos falar sobre a sua sobrevivência. No meio da gravação, você quase morreu. Conte o que aconteceu.

Olha, bom, não quero falar.

Entendo. Tive a minha própria experiência recentemente. As pessoas querem perguntar sobre minha saúde e hesito em falar disso. Por que me sinto assim? Estou com vergonha? É uma fraqueza tentar esconder?

É só um negócio que... as pessoas têm esses eventos de extinção na vida; pode ser psicológico ou físico. Sim, para mim foi físico, mas acho que me poupei dessa novela toda. Especialmente com esse tipo de obsessão pelas celebridades, pelos detalhes da vida das pessoas – saí disso. Quero falar sobre a questão de uma forma que permita que as pessoas preencham as lacunas do que elas mesmas enfrentaram, sabe? Uma coisa é falar sobre isso em um lugar onde fique registrado, como a Rolling Stone, mas quando a notícia chega ao tabloide local é horrível. Vira a pergunta que todos fazem.

Vamos falar disso em um sentido elíptico, então. Afinal, é crucial para o álbum.

É. Este apocalipse político estava acontecendo na Europa e nos Estados Unidos e encontrou uma rima perfeita com o que estava acontecendo na minha vida. E sofri uma chuva de golpes ao longo dos anos. Você recebe sinais, avisos, e percebe que não é um tanque, como a Ali [esposa de Bono] diz. O Edge fala uma coisa sobre mim, que olho para meu corpo como se fosse uma inconveniência.

Em 2000, você teve uma suspeita de câncer na garganta, certo?

Não, foi um exame para checar. Um dos especialistas queria fazer uma biópsia, o que seria arriscado – e estava tudo bem.

Há alguns anos, eu te visitei no hospital e seu braço estava em uma estrutura que parecia uma ponte.

Depois do meu acidente de bicicleta, fingindo que tinha sido um acidente de carro.

Parecia feio, e depois aconteceu esse evento. São muitos encontros com a morte.

Há uma tragédia cômica em um acidente de bicicleta no Central Park. Só que o que me abalou foi não me lembrar disso. Sofri uma amnésia. Não tenho ideia de como aconteceu. Isso me deixou um pouco inquieto, mas a outra coisa finalmente me atingiu. Foi do tipo: “Dá para sacar a dica?”

Você está fazendo o álbum e, de repente, teve que lidar com um problema de saúde. Como isso afetou o disco e sua visão dele?

Bom, estranhamente, a mortalidade seria um tema de qualquer maneira, só porque é um assunto não abordado frequentemente. Não dá para escrever Songs of Experience sem escrever sobre isso. Tive alguns desses choques no sistema, digamos, na minha vida. Como meu acidente de bicicleta ou meu problema nas costas. Então, sempre seria o assunto. Só queria não ser tão especialista nele. Encontrei um poeta chamado Brendan Kennelly. Eu o conheço há anos, ele é incrível, e falou: “Bono, se você quiser ir ao lugar onde a escrita vive, imagine que está morto”. Não existe ego, não existe vaidade, nenhuma preocupação com quem você ofenderá. É um ótimo conselho. Eu só não queria ter de descobrir fora de uma viagem mental. Não queria descobrir do jeito difícil.

Então como a ideia de mortalidade entrou em jogo?

Gavin Friday, um dos meus amigos de Dublin, compôs uma das minhas músicas preferidas, “The Last Song I’ll Ever Sing”. É sobre uma personalidade da cidade, um cara chamado Diceman, que morreu com 42 anos, cinco anos depois de ser diagnosticado com HIV. Só percebi recentemente que “Love Is All We Have Left” é minha tentativa de escrever essa música.

Você pode ser mais exato? Tipo quais músicas você acha que saíram diretamente de seu momento de quase morte?

Não foram tanto as músicas quanto...

O clima dele.

Acho... olha só: “The Showman” é uma música leve, divertida e se tornou uma faixa muito importante. Não se entregar à melancolia é o mais importante se você vai lutar para sair de qualquer situação que te encurrala. Autopiedade? Nós, irlandeses, somos os campeões mundiais nisso. É nossa característica nacional menos interessante. Nunca quis me entregara isso, então o punk rock, o andamento de algumas músicas, de repente se tornou muito importante. Só que o segundo verso é essencial, e tem a melhor frase do álbum, que é: “É o que é, não o que parece/ Esta coisa ferrada é algo de sonho/ Tenho baixa autoestima suficiente para me levar aonde quero ir”. Gostaria de poder dizer que é minha, mas foi Jimmy Iovine quem disse isso. Um amigo meu o estava criticando e falei: “Ah, ficou um pouco inseguro, Jimmy?” E Jimmy olhou para trás e respondeu: “Tenho baixa autoestima suficiente para me levar aonde quero ir”.

Soa como uma avaliação realista de você e suas bobagens.

Artistas são pessoas muito inseguras. O Gavin Friday me disse muitos anos atrás que “a insegurança é sua melhor segurança para um artista”. Um artista precisa saber o que está acontecendo no ambiente e sentir o lugar, e você não sente o lugar se é normal, se está completo. Se tivesse uma ótima noção de quem é, não ficaria tão vulnerável à opinião dos outros ou ao amor e aplauso e aprovação dos outros.

Só que o evento enriqueceu o álbum – isso sim é uma experiência.

Isso não é ótimo? Achei que Experience seria mais contemplativo, e tem esse lado, mas o coração do álbum é a energia e o punk e a motivação dele. Há uma espécie de jovialidade nele. Muitos dos andamentos são rápidos. E tem algumas das frases mais engraçadas, acho. “O dinossauro questiona por que ainda está na Terra.” Sabe, comecei essa frase sobre mim mesmo.

Ser um dinossauro?

Sim, claro, mas depois comecei a pensar nisso em termos do que estava acontecendo no mundo. E pensei: “Caramba, a democracia, aquela coisa com que cresci minha vida inteira... é o que realmente está enfrentando um evento de extinção”.

Em uma entrevista que fizemos em 2005, você disse: “Nossa definição de arte é abrir o peito, com certeza. Fazer uma cirurgia cardíaca de peito aberto. Queria que existisse um jeito mais fácil, mas as pessoas querem sangue, e sou uma delas”.
Vida e morte e arte... tudo isso.

Como sua fé te ajudou a enfrentar isso?

A pessoa que escreveu melhor sobre o amor na era cristã foi Paulo de Tarso, que se tornou São Paulo. Ele era um puta durão. É um cara superintelectual, mas é feroz e tem, claro, a experiência damascena. Ele vai embora e vive como um fabricante de tendas. Começa a pregar e escreve essa ode ao amor, que todos conhecem de sua carta aos Coríntios: “O amor é paciente, é bondoso... o amor tudo suporta, tudo crê” – você escuta isso em muitos casamentos. Como escreve essas coisas quando está em sua maré mais baixa? Eu não escrevi. Nada. Não me aprofundei. Estou olhando para alguém como Paulo, que estava na prisão escrevendo cartas de amor, e pensando: “Como isso acontece? É impressionante.”

Isso não o cura de tudo, do que pensa sobre as mulheres ou gays e tal, mas dentro do seu contexto ele tem uma visão incrivelmente transcendente do amor. E realmente acredito que é na escuridão que aprendemos a enxergar. É quando nos vemos mais claramente – onde não há luz.

Você perguntou sobre minha fé. Tive uma sensação de sufocamento. Sou cantor e tudo o que faço vem do ar. A resistência vem do ar. Nesse processo, senti que estava sufocando. Foi a coisa mais assustadora que poderia ter acontecido comigo, porque sinto dor. Pergunte à Ali. Ela disse que eu não notaria se estivesse com uma faca enfiada nas costas. Falaria “hein, o que é isso?” Só que nessa época no ano passado eu me senti muito sozinho e assustado e sem conseguir falar ou mesmo explicar meu medo, porque estava meio que...

Quando você sentiu que estava sufocando?

É. Só que, sabe, tem gente com coisas muito piores para lidar, então é mais um motivo para não falar sobre isso. Você minimiza todas as pessoas que, tipo, nunca venceram isso ou não conseguiram acesso a tratamento!

Sente que teve sorte?

Sorte? Sou o homem mais sortudo do mundo, porra. Não acho que senti medo de uma saída rápida. Pensei que seria inconveniente, porque tenho alguns álbuns para fazer e filhos para ver crescer e esta linda mulher e meus amigos e tudo isso. Só que eu não era essa pessoa e, de repente, virei essa pessoa. E você pensa: “Não quero ir embora. Há muito mais coisas para fazer”. Sou abençoado. Graça e algumas pessoas realmente inteligentes me fizeram sair dessa, e minha fé é forte. Leio os Salmos de Davi o tempo todo. São incríveis. Ele é o primeiro bluesman, gritando para Deus: “Por que isto aconteceu comigo?”, mas também há honestidade nisso... e, claro, ele parecia o Elvis. Se você olhar para a escultura de Michelangelo, não acha que Davi parece com o Elvis?

É muito bonito.

Também é irritante ele ser o judeu mais famoso do mundo e não o esculpirem como circuncidado... é loucura, mas, enfim, é um personagem muito atraente. Dança nu diante das tropas. A esposa fica fula com ele por fazer isso. Você sente que poderia gostar dele, mas daí ele faz coisas terríveis enquanto passa por quatro fases – servo, poeta, guerreiro, rei. Coisas terríveis. É uma figura bastante moderna em termos de suas contradições... isso é tedioso? Só que se você voltar ao começo, Davi é ungido por Samuel, o profeta Samuel, e, acima de tudo, tem seus irmãos mais velhos, um pastor que provavelmente fedia a cocô de ovelha, e quando ouve “É, provavelmente você será rei de Israel” todos riem. “Está brincando – este menino?”

Só que alguns anos depois, Saul, o rei, supostamente está tendo um demônio e a única coisa que o acalma é a música... tem sentido. Davi sabe tocar harpa. Quando está indo para o palácio, deve estar pensando: “É agora! É assim que vai acontecer”. Ainda melhor, quando ele encontra o rei e fica amigo do filho dele, Jônatas, é tipo: “Uau, isso definitivamente vai acontecer! O velho profeta Samuel estava certo”. O que acontece? Em um momento de fúria demoníaca, Saul se vira contra ele, tenta matá-lo com uma lança e ele é exilado. É perseguido e se esconde em uma caverna. Na escuridão daquela caverna, em meio ao silêncio, medo e provavelmente fedor, ele escreve o primeiro salmo.

Eu queria que isso não fosse verdade. Queria não conhecer o suficiente sobre arte para saber que isso é verdade. Que, às vezes, você tem de estar nessa caverna de desespero. E se ainda está acordado... há uma parte muito engraçada que vem em seguida. Davi, nosso herói, está se escondendo na caverna e o exército de Saul o procura. Na verdade, o rei Saul entra na caverna onde Davi estava escondido para... ahn... se aliviar. Não estou inventando isso – está nas Escrituras Sagradas. Davi está sentado ali, escondido. Poderia simplesmente matar o rei, mas pensa: “Não, ele é o ungido, não posso tocar nele”. Simplesmente corta um pedaço do manto de Saul, que sobe no cavalo e vai embora. Quando estão no vale, Davi sai e diz: “Sua realeza, seu Saul, eu estava muito perto”.

É uma bela história. Pensei nela minha vida inteira, porque sabia que era onde o blues tinha nascido.

Em “Lights of Home,” você escreve: “Não deveria estar aqui, porque deveria estar morto. Posso ver as luzes diante de mim. Acredito que meus melhores dias ainda virão, posso ver as luzes diante de mim. Ah, Jesus, se ainda sou seu amigo, que diabos, que diabos você tem para mim?”

Há uma referência a Bob Dylan nessa música; só te conto porque sei que você ama o Bob. Ela diz: “Ei, agora, você sabe meu nome? Para onde estou indo? Se não conseguir uma resposta nos seus olhos, eu vejo as luzes de casa”. Pelo menos na minha cabeça, a referência é a uma das minhas canções preferidas de Dylan, “Señor Señor”. Nela, ele conhece um anjo e, tipo, faz um passeio com ele. Sempre o imaginei como o anjo da morte.

O nome completo da música é “Señor (Tales of Yankee Power)”. Isso ajuda a explicar?

Não, acho que isso é o Bob te fazendo sair do caminho.

Sua música pergunta: “Jesus, o que você tem para mim?” O que acha que ele tem para você?

Há uma libertação inacreditável em abrir mão. Achei que eu já tinha, mas esse era o nível seguinte de confiança. Sabe, pessoas de fé podem ser muito irritantes. Como quando alguém no Grammy agradece a Deus por uma música, e você pensa “Deus do céu, é uma música horrível. Não dê crédito a Ele por ela – você deveria assumir isso!” Tenho certeza de que já fiz isso. Alguém fala “Ouvi isso diretamente da boca de Deus” e você pensa “Uau, Deus não tem bom gosto!”

Ele não consegue compor uma porra de uma música!

Tipo: “Esta é uma rima ruim, Deus!” Preciso tomar muito cuidado com isso, mas, se você me pergunta o que aprendi, aprendi a tentar separar um tempo para meditar sobre o dia que terei.

Fale sobre o tema do amor neste álbum. Vocês começam o disco com “Love Is All We Have Left”.

Estava imaginando um Frank Sinatra da ficção científica. [Canta sentimentalmente] “Amor e amor é só o que nos resta.” É quase cômico por um lado, só que arranca seu coração do peito. Tragicomédia. Achei que seria interessante compor uma música do ponto de vista de uma pessoa que talvez não cantasse outra canção. Uma das coisas que me pergunto neste álbum é: “Se você tiver uma coisa a dizer, qual seria? Se só nos restar isso, fico satisfeito – amor”. O que quis fazer foi ter uma conversa dialética na qual o eu mais jovem ataca o eu mais velho. Então, você tem essa voz em “Love Is All We Have Left”: [canta] “Agora, você está do outro lado do telescópio/ Sete bilhões de estrelas nos olhos dela/ Tantas estrelas, tantas maneiras de ver/ Ei, este não é um momento para não estar vivo”. É o você inocente falando com o você experiente e dizendo que tudo bem. Fiz as pazes, um pouco, com aquele entusiasta mais novo que eu era. E acho que esse entusiasta mais novo não reprovaria o ponto aonde cheguei. Talvez não tivesse gostado no processo de chegar lá.

Você não está apenas cantando canções de amor. São meditações profundas sobre o poder do amor.

É provavelmente nosso grande assunto como banda. Quando cantamos “Pride (In the Name of Love)”, foi algo excruciante para um jovem cantar, se você pensar bem, mas se estiver me perguntando qual lado do amor é isso, sabe, a língua inglesa é tão rica, mas limitada nesta palavra, “love”. Há tantas outras...

“Landlady” é uma canção de amor extraordinariamente linda sobre você e Ali e na qual você agradece por muita coisa.

Chegar em casa – esse é o grande negócio para mim. Mal consigo acreditar, porque cresci dormindo no sofá dos outros, no chão da casa dos outros, fugindo para o circo e entrando para uma banda de rock. Demorei muito tempo para descobrir onde fica meu lar. Saí de casa provavelmente na semana em que minha mãe morreu [quando Bono tinha 14 anos]. Tipo fiquei lá na Cedarwood Road número 10 [sua casa de infância] nos anos seguintes, mas não estava realmente lá. Em Songs of Innocence, “This Is Where You Can Reach Me Now” explica a constatação que tive, sentado ali, de que tinha mudado de endereço. Eu estava com a banda. A banda era onde eu morava. Era outra família. Demorei, mas acho que finalmente cheguei em casa, só que a única maneira como consegui dizer isso foi com algum humor. Então, em “Landlady”, há uma pequena frase à la Bob Dylan, “nunca saberei o que o poeta faminto quis dizer, porque quando eu estava duro era você que sempre pagava o aluguel”. Aprendi muito com Bob Dylan ao longo dos anos e uma das coisas que aprendi é que, em seu momento mais sério, você precisa de humor. Precisa de humor, porra. É por isso que tenho tanto orgulho do álbum. Você tem todas essas coisas agressivas, mas também tem, em “Blackout”, “o dinossauro questiona por que ainda está na Terra. Um meteoro promete que não vai doer”. É engraçado, mas “Landlady” também é, e é por isso que “Landlady” funciona. Tem humor e humildade suficientes, espero, para que não seja um puta tormento.

As paradas atualmente estão dominadas por artistas mais jovens. A maioria das coisas no Top 40 é hip-hop ou pop. O rock não está mais no centro de nossa cultura. Onde o U2 se encaixa neste novo mundo?

As cartas estão um pouco marcadas. Agora, o streaming está no modelo baseado em anúncios. E isso é muito, muito jovem e muito, muito pop. É dominado por frequência de reproduções, mas essa não é realmente uma medida do peso de um artista. Quando se passa de um modelo de anúncios para um de assinatura, algo engraçado acontece: o artista que te faz assinar é, na verdade, o mais valioso.

Aquele que você paga?

Aquele que você paga. Se você é adolescente e ouve sei lá qual artista pop, provavelmente o ouve 100 vezes por dia. É uma paixão adolescente, mas daqui a um ano não terá importância. Só que se os artistas têm uma ligação com você e sua vida, você paga pelo serviço de assinatura. Vamos ver uma revolução na forma como artistas e fãs interagem. Chance the Rapper, que tem uma alma linda e uma mente igualmente linda, não tem gravadora. Está fazendo tudo sozinho e faz sucesso a ponto de poder doar US$ 1 milhão ao sistema educacional de Chicago. Só que se sua música está na Apple ou no Spotify, você pode falar diretamente com as pessoas. O que precisa das gravadoras é conselho e, sabe, ajuda sobre como gerenciar a banda ou marca ou a arte e os vídeos e tudo isso. Este realmente é um período de transição. Tem sido bastante antipático para muitos artistas. Eu sabia que o Spotify faria o que tinha de fazer, mas muitos amigos meus ficaram bravos por acreditarem em mim, porque disseram: “Só estamos recebendo micropagamentos”. Falei que as coisas mudarão assim que isso tiver escala e vai demorar um tempo. Vai ser desagradável. Este não é um bom momento para ser Cole Porter.

O Spotify começa a compensar?

Se as gravadoras não dividirem o que recebem do Spotify, os artistas irão ignorá-las e passarão diretamente para o Spotify ou para a Apple.

Na ecologia disso, onde vocês se encaixam?

Demos nosso último álbum de graça. Quer dizer, a Apple deu. E muito generosamente, acho, mas o disco anterior, No Line on the Horizon, era muito adulto, não era para o nicho demográfico interessado em streaming. Então, só estamos entrando nisso agora. Ainda nem começamos.

Quer dizer que você acha que a música que a banda está fazendo agora é mais favorável ao streaming?

É. Só que é muito, muito interessante. Voltamos aos anos 1950, quando o foco era nas músicas e não nos álbuns. O U2 grava álbuns, então, como sobrevivemos? Melhorando as músicas. E tendo, espero, a humildade de aceitar que precisamos redescobrir a composição, o que é um motivo para Edge e eu levarmos Turn Off the Dark, o musical do Homem-Aranha, para o teatro, o aspecto Rodgers e Hammerstein da composição – muita coisa no “American Songbook” veio de musicais. Começamos a entrar no que se pode chamar de composição formal. Perguntamos ao Paul McCartney: “De onde você tirou todos aqueles acordes incríveis nas músicas dos Beatles?”, e ele respondeu: “Bom, sabe, éramos uma banda de rock, mas, para ter bons shows, tivemos de tocar em casamentos. Em festas chiques de casamento. Tivemos de aprender Gershwin, tudo isso”. Comentei: “Não sabia disso”. E Paul disse: “Ah, sim, aceitamos coisas que pagavam melhor”. E eu: “Ah!” Foi do tipo: “Lembrete para mim e Edge: vamos entrar no teatro musical. Vamos pensar nisso”. Eu diria que, no meio de Songs of Innocence, começamos mesmo a pensar de forma diferente sobre a composição, em sermos mais formais nisso. Agora, estas novas músicas têm melodias que dá para ouvir do outro lado da rua, dobrando a esquina. Quando são boas, dá para ouvir pelas paredes.

Como vocês descobrem novas músicas?

A banda sempre está ouvindo música e tenho meus filhos. Jordan é esnobe com música, com indie. A Eve gosta de hip-hop. O Elijah tem uma banda e tem opiniões muito fortes sobre música, mas não faz nenhuma distinção entre, digamos, The Who e The Killers. Ou, sabe, Nirvana e Royal Blood. Não é uma coisa de geração para ele. É o som e o que ele está vivendo. Ele acredita que uma revolução no rock está para chegar.

Você acredita nisso?

Acho que a música ficou muito “de menina”. Existem algumas coisas boas nisso, mas o hip-hop é o único lugar para a raiva juvenil masculina no momento – e isso não é bom. Quando eu tinha 16 anos, sentia muita raiva. Você precisa encontrar um lugar para isso e para guitarras, seja com uma bateria eletrônica ou não – tanto faz. Assim que algo se torna preservado, acabou. Você pode até preservar em formol. No fim, o que é o rock? A raiva está no coração dele. O ótimo rock tende a ter isso, e é por isso que o The Who foi uma banda tão boa. Ou o Pearl Jam. O Eddie [Vedder] tem essa raiva.

Portanto... você acredita que ainda exista um espaço disponível.

Ele vai voltar.

Você concorda com o Eli?

O ângulo pelo qual ele enxerga as coisas é que, se a revolução do rock não está acontecendo, nós vamos começá-la.

Quem você acha que é o público do U2? Há alguns anos, você disse que tinha de sair e buscar um público mais jovem e novo, fazer uma pequena turnê em faculdades e se reinventar.

O experimento da Apple ajudou muito nesse sentido. Larry [Mullen Jr. ] tinha sido muito cético quanto àquilo, mas, depois, disse: “Olha, fico mais acima na plataforma [da bateria nos shows]. Enxergo o que vocês não conseguem e dá para ver que o público está mais jovem”. Perguntei como sabia que isso tinha a ver como experimento da Apple e ele respondeu: “Bom, porque eles não sabem a letra de ‘Beautiful Day’, mas conhecem de cor ‘Every Breaking Wave’”. E, à medida que seguimos em frente com este álbum, estamos nas rádios. É incrível. Não consigo pensar em outro artista de 50 e tantos anos que esteja na rádio. Nas rádios tradicionais. Você consegue?

Não. Nem o Bruce nem os Stones...

Sabe aquela música que o Bruce compôs, “Girls in Their Summer Clothes” [de 2007]? Ouvi e falei: “Essa deveria estar nas rádios, por que não toca em nenhuma?” Conversei com alguém recentemente, fã do Bruce, e perguntei: “Você conhece essa música? É a mais acertada sobre envelhecer. É uma canção de experiência, na verdade”. E a pessoa respondeu: “Não, não conheço essa”. Então, essas músicas podem escorrer por entre os dedos da cultura. É por isso que o U2 corre atrás de vender nossas coisas do mesmo jeito que fizemos para o primeiro álbum.

Como você medirá o sucesso para Songs of Experience?

Gostaria que ele tivesse músicas famosas para que, quando as tocarmos ao vivo, as pessoas não fiquem: “Qual é essa? Vamos aproveitar para ir ao banheiro?”

Quais faixas você acha que ficarão famosas?

Sei que “You’re the Best Thing about Me” será uma delas. Acho que “Get Out of Your Own Way” será uma delas. A maior de todas poderá ser “Love Is Bigger Than Anything in Its Way”, mas talvez seja porque o pessoal de rádio nos diz isso. Pode ser algo como “The Showman”, algo inesperado. Ou, sabe, “Red Flag Day,” “Summer of Love”... não sei.

Qual é a parte mais difícil de estar no U2 neste momento?

Conseguir consenso.

Por exemplo?

Algumas pessoas, de um jeito muito são, pensam: “Por que vocês querem isso? Por que querem nossas músicas na rádio?” Digo que, se acreditamos nas nossas canções, precisamos usar qualquer meio que encontramos para chegar às pessoas. Não precisamos fazer isso por dinheiro, por nada. E, claro, nossa banda pode fazer turnês pelo resto da vida só com o que já temos. Estou pedindo que coloquem muita energia na gravação destas novas músicas e, depois, para vender nossas coisas, colocar tudo na mesa, como fazíamos quando éramos moleques. Só que não somos moleques.

Então existe um pouco de divisão existencial quanto à sua ambição, que está forte como nunca?

Sinto uma compulsão com as músicas. Se você vai tão longe, tem que pisar fundo. E não sei se isso pode durar para sempre, mas, uau, temos as músicas agora. Vindo aqui de carro, em uma estação escutamos “You’re the Best Thing about Me”. Em outra, chamada The Wave, ouvi “Bullet the Blue Sky”. Que viagem... em cerca de 30 anos.

Uma vez, você disse que seu negócio era se inscrever para o emprego de melhor banda do mundo. Ainda está nele?

Olha, o cantor é um provocador de multidões e um locutor de eventos. Temos de chamar atenção para nossa banda e os fogos de artifício que lanço nas cidades são algo incrível, como: “Estamos nos inscrevendo de novo para ser a melhor banda do mundo”. É só para deixar as pessoas irritadas
ou falando sobre isso.

E também para te agitar um pouco.

Verdade. Só vivemos com esta ideia, mesmo nos primeiros 10 anos da banda. “E se não estragássemos tudo como todo mundo faz? Não seria incrível ficarmos juntos por 30 anos?” Sabe, era loucura. Estamos com 40 anos de banda agora e acho que a única maneira de conseguirmos pensar nisso é imaginando: e se o Clash ainda existisse? Ficaríamos muito interessados em ver o trabalho que eles fariam. Sabe, o fato de que os Rolling Stones existem é uma espécie de milagre e algo gracioso.

Você escreve sobre humildade no álbum. Como se mantém humilde em sua posição, especialmente em uma era de autopromoção exagerada?

Há uma diferença entre humildade e insegurança. Tenho a insegurança do artista. Como artista, você pode sentir um ambiente. Mesmo se for uma espécie de encontro, um jantar ou uma estreia, consigo sentir o ambiente – isso é insegurança. Humildade é diferente. Humildade é uma noção genuína de seu lugar no universo e entender que não há problema em ter um papel silencioso e apoiador na vida dos outros... ainda não cheguei a esse ponto. A grandeza em uma pessoa vem quando ela não a busca. É muito chato se você é um artista – os fogos de artifício são o motivo para as pessoas irem ao show. Quando estou no palco, ainda encontro essa espécie de lado sombrio. Ainda tenho que trabalhar para chegar a um ponto que dê para reconhecer como humildade.

Essa é uma luta constante.

Acho que sim. Espero que você não tenha me visto sendo muito arrogante.

Não que eu me lembre.

Tento não ser, tento não jogar café nas pessoas...

O que acha da crise dos refugiados que está acontecendo na Europa?

Posso dar um passo atrás e tentar dar uma imagem mais macro antes de entrarmos nisso? No mundo ocidental, na nossa vida, nunca houve um momento, até muito recentemente, em que justiça e igualdade não estivessem melhorando. Houve reveses, mas era como se o mundo estivesse em uma trajetória rumo a igualdade e justiça e equidade para todos.

Há a famosa frase de Martin Luther King.

“O arco do universo moral é amplo, mas se inclina em direção à justiça.” Nós dois crescemos em um mundo no qual as coisas estavam melhorando, apesar de todos os obstáculos. Isso não era no mundo mais amplo, no mundo inteiro, mas no mundo em que crescemos. O motivo para isso foi amplamente porque, depois da Segunda Guerra Mundial, ficou muito claro, pela primeira vez, que, na história da raça humana, tínhamos a capacidade de extinguir toda a vida.

Foi um choque que não calibramos adequadamente. Mudou a forma como Giacometti fazia arte. Mudou a forma como Picasso pintava figuras humanas; tudo mudou consciente e inconscientemente. O rock surgiu. Tudo aquilo de paz e amor veio de gente nascida dos escombros da Segunda Guerra.

Quando teve a eleição [de 2016] e as pessoas intuíram que algo horrível e inédito estava acontecendo, houve uma sensação de luto. Tivemos o Brexit, então as pessoas na Europa também estão sentindo isso. Pensei: “É um melodrama”. Por que as pessoas, gente racional que conheço, sentem que estão lamentando como se alguém tivesse morrido? É uma eleição, as coisas vão se corrigir, que seja.

Daí, percebi que algo tinha morrido. A inocência das pessoas tinha morrido. Uma geração que havia crescido pensando que o espírito humano teve uma evolução natural rumo à justiça e igualdade estava aprendendo que esse talvez não fosse o caso. Minha atitude foi: “OK, bom. Agora é hora de acordar e perceber que não podemos achar que temos a garantia de qualquer coisa”. Grandes primatas existem há muito mais tempo do que a democracia, e este cara que não deve ser nomeado – é só uma nova manifestação desse grande primata. Ficamos abalados. Até na Europa, as pessoas esqueceram o que o fascismo fez com elas. Seja o fascismo descrito como Stalin ou Mao no comunismo estatal, seja como você quiser chamar. Está esquecido. Estamos voltando ao jeito como éramos. O novo normal é o velho normal. Isso é assustador. A demonização do “outro” voltou. Retornando à sua pergunta: na Europa, as pessoas temem por suas vidas e estilos de vida e sustentos e homogeneidade cultural e começaram a construir muros em torno daquilo que definem como a Europa. Está se tornando uma fortaleza e há uma mentalidade de fechar as portas, provavelmente atiçada por forças externas. O vergonhoso disso é que, no início da crise dos refugiados, você tinha fotos incríveis de famílias vindas da Síria chegando de trem na Alemanha, em Munique, e a recepção maravilhosa que tiveram. Pessoas levando sapatos e roupas para as crianças – espontaneamente, nada organizado. Simplesmente a bondade genuína dos alemães. E, de repente, [Angela] Merkel se torna não apenas a cabeça da Europa, mas também o coração da Europa. E o que acontece?

Aqueles à direita dela começam a se juntar e as pessoas começam a reclamar. Houve um momento na França em que, se [Marine] Le Pen tivesse vencido a eleição, não [Emmanuel] Macron, a unificação da Europa teria sido ameaçada. Pense nisso. Uma das grandes coisas positivas que vieram da negatividade da Segunda Guerra Mundial poderia ter sido perdida.

O que aconteceu nos Estados Unidos foi que Le Pen ganhou.

Verdade.

Há um longo histórico de observarmos o país dividido quanto a grandes questões morais e ele sobrevivendo a isso, mais ou menos. O que pode acontecer nos EUA? Você está falando sobre a democracia ser um dinossauro?

Como disse, os grandes primatas sempre dominaram os ambientes e a democracia não é o habitat natural do homo sapiens. A democracia é um conceito notável que depende de um jornalismo eficiente. Então, “fake news” não é uma ameaça falsa. Você tem um presidente pós-verdade liderando um país pós-verdade. O assustador não é que o grande primata seja muito inteligente, o que ele claramente é, mas e se ele fosse muito inteligente e menos fácil de ler? O que também deveria ser fácil de ler são as lições que esquerda e direita precisam aprender sobre como este absurdo aconteceu. Não deveria ser necessário ter um astro de reality show para ler as vaias dos descontentes. Todos precisamos melhorar no que diz respeito a entender de onde vêm esta raiva e esta sensação de deslocamento.

Como ativista, você tem um currículo de atuação com políticos. Como se pode trabalhar com qualquer pessoa em Washington neste momento?

Percebi que não conseguiria trabalhar com o presidente, quisesse ele ou não, porque não dá para acreditar no que ele diz. Então, tive uma reunião com o [vice- presidente dos EUA] Mike Pence. Ele tinha sido defensor do PEPFAR [Plano Emergencial do Presidente para Auxílio à aids]. Treze milhões de pessoas devem suas vidas ao PEPFAR e Pence o defendeu e lutou por ele no Congresso quando estive lá. Então, falei: “Ótimo, posso trabalhar com ele”, mas isso foi no começo. Cortes [no PEPFAR] foram prometidos com a eliminação geral de ajuda estrangeira. O vice-presidente nos disse em nossa reunião que apoiava o PEPFAR, mas tenho que falar que o Congresso é quem merece crédito por impedir que os cortes fossem feitos. Isso te obriga a fazer perguntas mais difíceis sobre o governo.

Você visitou George W. Bush no Texas recentemente.

Acho que, depois de sair da Casa Branca, ele virou um homem muito mais humilde. Quando o visitei no rancho dele, o encontrei com uma vida quieta. Não faz muitos discursos, mas pinta muito. Tenho certeza de que dói nele ver os mortos em guerras recentes que voltaram para casa e ele pinta essas pessoas. Laura e suas duas filhas têm muito orgulho do trabalho que os Estados Unidos fizeram na luta contra o HIV/ aids. Trabalhamos juntos nisso. Condoleezza Rice e o chefe de gabinete de Bush, Josh Bolten, também merecem muito crédito. É a maior intervenção de saúde na história da medicina. Cerca de 20 milhões de vidas foram salvas em uma guerra que, anteriormente, havia custado 35 milhões de vidas. Se quiser pensar nisso de outro jeito, metade da quantidade de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial sucumbiu a um vírus minúsculo. A ficha ainda não caiu. Muitos de nós trabalhamos nisso, mas não sei bem se mesmo agora entendemos totalmente a dimensão do que foi conquistado diante de tanto horror, mas isso deve fazer as pessoas lembrarem o que é possível se deixarmos o partidarismo de lado.

O que você diz a quem está desanimado com este momento? Existe esperança depois disso?

Existe. Existe, sim. Acho que o momento só precisa ser recuperado. Esta com certeza é a era mais desanimadora desde Nixon. Isso mina a própria ideia do que são os Estados Unidos, o que está acontecendo agora. Os republicanos sabem disso, os democratas sabem disso – ninguém vai sair bem daqui. Conhecemos alguns que deveriam ter tido noção e não tentado pegar carona na celebridade do homem para fazer as coisas. Eles se arrependerão disso até a morte. Antes de criticá-lo nas primárias, liguei para muitos amigos meus republicanos e falei: “Não posso ficar quieto enquanto esta tomada hostil do seu partido, e talvez de seu país, acontece”. Falei esta frase, e ainda a defendo: “Os Estados Unidos são a melhor ideia que o mundo já teve e esta, possivelmente, é a pior ideia que já aconteceu com o país.”

Em “American Soul”, você diz que os Estados Unidos são “um sonho que o mundo inteiro tem”.

É, esta está no álbum. A Irlanda é um país muito bom. A França é um país ótimo. A Grã Bretanha é um país ótimo, mas não é uma ideia. Os Estados Unidos são uma ideia, uma ótima ideia. E o mundo sente que tem uma participação nela. Queremos que vocês, o país, tenham sucesso e é por isso que ficamos irritantes pra cacete e falamos muito sobre ele. O mundo precisa que os Estados Unidos sejam bem-sucedidos, agora mais do que nunca.

Conte sobre a ONE Campaign, que luta contra a pobreza extrema. Em que ponto vocês estão com ela e qual é seu envolvimento?

Temos quase 9 milhões de integrantes, pouco mais de 3 milhões na África. Espero que as vozes ao sul do Equador abafem aquelas ao norte do Equador. Espero, um dia, não trabalhar mais nisso. E está se tornando cada vez mais uma organização independente. As mulheres estão assumindo a dianteira. Nossa principal campanha no momento se chama A Pobreza é Sexista. Há outra chamada As Garotas Contam. Cerca de 130 milhões de meninas que querem ir para a escola e não podem. Estou trabalhando mais nos bastidores, e tudo bem. Estou tentando tornar minha própria liderança mais estratégica. Se sou chamado para reuniões, vou. Fazemos campanha por transparência no setor de mineração e na indústria extrativista. Não se escreve muito sobre isso, mas é tão importante quanto combater o HIV/aids. O maior assassino no mundo em desenvolvimento não é uma doença – é a corrupção.

Como vocês estão lutando contra a corrupção?

A ONE fez campanha por uma regra exigindo que cada mineradora registrada na Bolsa de Valores de Nova York declarasse quanto paga por contratos de mineração, porque se esses acordos não forem transparentes, fica fácil para governos locais manipularem esses números, e são números grandes. Há um novo provérbio africano, sem brincadeira: “Reze para não descobrirmos petróleo”. Porque isso leva todas as pessoas erradas para a cidade. Se há um antídoto contra a corrupção, há uma vacina, que é a transparência. Deixe tudo às claras.

Qual é seu envolvimento? Você está tentando sair?

Não estou saindo. Ainda estou muito envolvido, mas acho que é mais saudável a organização não precisar depender de mim. Temos algumas pessoas brilhantes. Nossa nova chefe, Gayle Smith, trabalhou para o presidente [Barack] Obama e é uma verdadeira força – nós a chamamos de Gayle Force. Você imagina que durante as turnês é mais tranquilo, mas na verdade nos encontramos com líderes em cada lugar aonde vamos. Quando o U2 tocou em Paris, fui falar com o Macron e a [esposa dele] Brigitte.

Como ele é?

Macron foi muito gentil em me receber. Tinha acabado de ser eleito para um dos cargos mais poderosos do mundo. Fiquei realmente encantado com a humildade dele. Tem uma mente rápida e inspiradora e uma arma secreta que é uma esposa superciente do trabalho da ONE pela educação de meninas no mundo em desenvolvimento... a educação não é fácil, é cara. Falamos sobre o compromisso dele em fazer a França alocar 0,7% da RNB [renda nacional bruta] para a assistência de desenvolvimento ODA. Ele concordou com 0,55% até 2022. Foi um ótimo encontro, mas o impressionante nele foi que não estava focado nos números. Estava focado em ser eficaz. Disse: “Você está nos fazendo manter nossa promessa. Ficamos felizes em manter a promessa. Você precisa garantir que os franceses recebam o que merecem, porque queremos apoiar a luta contra a pobreza extrema”. Eu teria conseguido essa reunião se a turnê não estivesse acontecendo em um estádio perto de você? Talvez, porque ele é mais curioso e interessado do que a maioria, mas, para outros líderes, não. A fanfarra e o burburinho de chegar à cidade com o circo deixam as pessoas ansiosas por uma reunião. Nos Estados Unidos, tivemos democratas e republicanos nos visitando nesta última turnê. Não é piada. Senadores, gente do Congresso, embora tenhamos um momento no show em que detonamos o homem que não deve ser mencionado.

Você já foi associado a Aung San Suu Kyi, líder de Mianmar cuja libertação defendeu quando era prisioneira política. Agora, ela parece estar, no mínimo, apática enquanto seu país executa o que parece ser uma limpeza étnica. Qual é sua visão sobre o que está acontecendo ali?

É muito difícil e – meio que sinto náusea com isso. Realmente passo mal, porque não consigo acreditar no que todas as evidências indicam, mas há uma limpeza étnica. Realmente está acontecendo e ela precisa sair porque sabe que está acontecendo. Tenho certeza de que tem muitos bons motivos na cabeça para não sair. Talvez não queira perder o país para os militares, mas já perdeu, se o que vemos nas fotos é a realidade. Os direitos humanos sendo incendiados, as vidas sendo queimadas no estado de Rakhine são mais importantes do que uma unidade sem eles.

É impressionantemente brutal.

É porque projetamos nas pessoas o que queremos que elas sejam? Encontramos alguém de quem gostamos e dizemos a nós mesmos que existe alguém melhor do que nós. Mais capaz do que nós. Uma bússola moral mais verdadeira do que nós. Imbuímos nela todas essas qualidades. Fazemos isso com as pessoas. Acho que fizeram isso comigo. As pessoas têm a versão delas sobre você, projetam o que querem ver em você. Talvez ela sempre tivesse sido política. Não era uma santa. Não era uma espécie de salvadora. Talvez sempre estivéssemos errados e precisamos aceitar que estávamos errados. Ou talvez algo terrível tenha acontecido com ela e não sabemos.

Vocês fizeram a turnê Joshua Tree, lançaram o disco e estão se preparando para entrar em uma nova turnê ainda no primeiro semestre. Alguma palavra final de sabedoria?

Estou me segurando à ideia de que pela sabedoria, pela experiência você pode recuperar a inocência de algumas maneiras importantes. Quero ser brincalhão. Quero ser experimental. Quero manter a disciplina da composição seguindo em frente e acho que relaxamos por um tempo. Quero ser útil. Esta é a prece da nossa família, você sabe. Não é a prece mais grandiosa. É só: estamos disponíveis para trabalhar. Esta é a prece do U2. Queremos ser úteis, mas queremos mudar o mundo. E queremos nos divertir ao mesmo tempo. O que há de errado nisso?


Fonte: Rolling Stone

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U2 lidera paradas com novo álbum e chega onde nenhuma banda havia alcançado

Songs of Experience, o recém-lançado álbum dos irlandeses do U2, chegou para elevar o status de lenda da banda. O disco chegou ao número 1 das paradas da Billboard e, além desta já notável conquista, fez a banda ser a única da história a liderar os charts pelo menos uma vez nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010.
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Apesar de ser a primeira banda a atingir este recorde, outros três artistas solo também tiveram discos número 1 nestas quatro décadas: Janet  Jackson, Bruce Springsteen e Barbra Streisand.

De acordo com dados da Nielsen Music, que abastecem e formam o ranking Billboard 200, o álbum vendeu 186 mil unidades em sua primeira semana. Com isso, Songs of Experience é o maior disco de rock na liderança das paradas desde que o Metallica lançou Hardwired… To Self-Destruct, que vendeu 291 mil unidades, no começo de dezembro de 2016.

O ranking da Billboard 200 ranqueia os álbuns mais populares da semana nos Estados Unidos, baseando-se no consumo conjunto de venda de unidades físicas, vendas de faixas online e execuções em streaming.

As vendas de Songs of Experience tiveram uma ajuda de vendas casadas de ingressos para shows e o álbum. A nova turnê da banda começa em maio. O novo disco é uma continuação de Songs of Innocence, de 2014, que foi oferecido aos usuários do iTunes, da Apple.

A última vez em que o U2 havia liderado as paradas foi em 2009, com No Line on the Horizon, que vendeu 484 mil álbuns na primeira semana. Os outros discos que chegaram ao número 1 são: How to Dismantle an Atomic Bomb (2004), Pop (1997), Zooropa (1993), Achtung Baby (1991), a trilha sonora de Rattle and Hum (1988) e The Joshua Tree (1987).

O U2 é o sexto artista com mais álbuns número 1 da história, empatado com Kenny Chesney e Madonna - contando apenas bandas, pularia para o terceiro lugar. Os Beatles seguem na liderança (com 19), seguidos por Jay-Z (14), Bruce Springsteen e Barbra Streisand (11 cada), Elvis Presley (10) e Garth Brooks e Rolling Stones (9 cada). Ficaram para trás, com 7: Paul McCartney/Wings, Led Zeppelin, Kanye West, Janet Jackson, Eminem, Drake e Kenny Chesney.

 
Fonte: UOL

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Songs of experience: o U2 traz a receita do elixir da juventude

A juventude é uma obsessão para o U2, banda irlandesa que começou sua caminhada rumo aos ouvidos e corações do planeta em 1980, com um disco (Boy) cuja capa era o retrato de um garotinho. Trinta e sete anos depois, estes senhores à beira do sessentismo lançam nesta sexta-feira, 1º de dezembro, Songs of experience, seu 14º álbum, no qual buscam, em seus próprios eus dos 20 e tantos anos, a vitalidade para fazer voar um punhado de canções reflexivas e poéticas (na capa deste, os adolescentes são o filho do cantor Bono e a filha do guitarrista Edge).
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A boa notícia é que esta coleção de 13 faixas, com discretas porém estelares participações especiais, é bem mais consistente que a do álbum anterior, o disco-irmão Songs of innocence, que eles deram de graça, via iTunes, em 2014, para quem queria e quem não queria.

O que a experiência parece ter ensinado aos integrantes do U2 é que, se eles perseguirem os grupos de sucesso do rock atual (que, em boa parte, os têm em seu DNA), vão acabar, mais dia menos dia, esbarrando em si mesmos, e no seu passado.

Songs of experience é, da abertura ao encerramento, o que se poderia chamar de um disco clássico do U2. Passagens atmosféricas, partes épicas, o rock comendo quando se precisa dele, Bono sem amarras e The Edge com suas abstrações sônicas que saem aparentemente sem que ele faça força. Tudo, com faixas que passam por cada uma das transformações que o grupo sofreu ao longo da carreira.

Mesmo livre da padronização de produção que pôs Songs of innocence a perder, o novo disco, verdade seja dita, demora um pouco a engrenar. Lights of home, que conta com participação vocal das irmãs do Haim, começa a animar, com sua pegada Black Keys e uma parte de tempero gospel. You’re the best thing about me mantém o clima rock em cima, avançando para Get out your own way, aquilo que alguém mais mal-humorado poderia chamar de hino motivacional, mas que no fim das contas bate nas caixas de som como aquela música que os Killers teriam vendido a alma para conseguir fazer. Versos de inspiração bíblica, do rapper Kendrick Lamar, atravessam o fim da faixa e entram pela seguinte, American soul, rock de verdade, juvenil, como o U2 não faz há um bom tempo.

Sensual, com Lady Gaga no apoio vocal, Summer of love fala da “costa oeste, não aquela que todos conhecem” (quer dizer, não a Califórnia, mas a costa oeste do Mar Mediterrâneo, com seus barcos de refugiados). A balançada Red flag day segue pelo tema do mar, mas como metáfora para os riscos que se deve correr na vida. E aí ela dá lugar para a primeira grande faixa do disco, The showman (little more better), em que o U2 se serve do rock dos anos 1950 para mostrar a excelência de sua composição e execução. Na sequência, The little things that gave you away (mais lenta, daquelas que o Coldplay invejará até o fim dos tempos) e a apaixonada Landlady são achados de letra e música, vitórias da simplicidade e da emoção.

Com um sinistro groove disco que a liga a sua própria Discotheque (e com mais de uma menção a Donald Trump), The blackout puxa o fôlego final de Songs of experience. Love is bigger than anything in its way surpreende com um dos mais potentes refrãos da história (aliado a uma demonstração de energia percussiva para humilhar qualquer Bastille) e 13 (there is a light) fecha o álbum em sua versão normal (a deluxe tem mais quatro faixas) com aquele chamado à luz, à transcendência, e os lapidares versos finais: “E essa é uma canção, uma canção para alguém, para alguém como eu”, que se ligam a Song for someone, do disco anterior. Mas pode esquecer o que eles fizeram em 2014: tudo indica que, enfim, a experiência deu ao U2 a receita do elixir da juventude.


Fonte: O Globo

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