The Edge em Zooropa - Parte 1

Há vinte anos, o U2 pegou a todos de surpresa lançando um álbum chamado Zooropa no meio da turnê Zoo TV. Numa tarde de verão de 1993, depois da passagem de som no estádio Wembley em Londres, Edge conversou com o pessoal da revista Propaganda para contar como tudo aconteceu.

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A última vez que nos falamos foi no final da transmissão da Zoo TV nos Estados Unidos e você disse que ia para casa e para a biblioteca. Mas você não foi, não é?

Edge
Não, eu não fui.  Quando chegamos no final da turnê, era claro que a tentativa de desacelerar e depois em seguida se preparar emocionalmente para a segunda parte da turnê mundial seria impossível, então decidimos continuar. O que significava voltar ao estúdio.

Eu gastei boa parte de janeiro apanhando todas as coisas que havíamos acumulado: amigos, cartas, telefonemas. É muito difícil, quase impossível, manter amizades quando você está longe. Você tem que lembrar que é mais difícil para alguém ser seu amigo do que pra você ser amigo deles por causa do sucesso da banda. E nós estamos fora por muito tempo, é duro fazer esse trabalho – há muita coisa chegando em casa. E eu não poderia me envolver com qualquer leitura mesmo – estando na estrada, a mente fica concentrada nos shows, aquelas duas horas e meia do seu dia, que encoraja a mentalidade “channel-hopping”, não só TV com livros e revistas.

Então, você decidiu que era mais fácil fazer um disco?
Sim, é um jeito simples de descrever. No início, nós íamos fazer algo muito casual e lançar um EP, que era a intenção. Nós tivemos fevereiro e março como pré-produção e fase de composição e em abril e maio foi oficialmente o período de gravação com Brian e Flood. Brian veio em um total de três semanas e meia e Flood num total de oito a dez semanas.
Você começa um álbum com uma coleção de inícios e você começa a trabalhar nesses pedaços, no qual é assim o nosso processo de gravação. O estúdio para nós é mais uma ferramenta de composição e nós começamos a levar as músicas à conclusões, o que implica na direção de outras músicas. Então, o álbum como um todo começa a ter uma identidade particular.

Nós sempre quisemos que nossos álbuns tivessem um senso de unidade, uma única direção – sonoramente ou nas letras – um tipo de direção criativa unificada por trás das músicas. Nós sempre sentimos que era importante ter esse tipo de coesão e quando chegamos nesse ponto, onde as músicas estão começando a se encaixar, então o álbum surge e nós começamos a tomar decisões sobre quais músicas colocar e algumas boas músicas acabam ficando de lado. Mas elas nunca são desperdiçadas.

Numb já estava por aí há algum tempo, não é?
Na verdade era um arranjo para uma outra música chamada “Down All The Days”, que concluímos musicalmente , mas decidimos que não era a decisão certa. Nós a deixamos por um tempo e no final das sessões do Achtung Baby eu vim com essa ideia para “Numb” – só um título, uma ideia lírica – mas não tivemos muito tempo pra isso. Então, a pegamos de volta quando estávamos trabalhando no Zooropa e eu a olhei de novo e tentei umas ideias de vocais diferentes, como essa batida monótona e comecei daí.

Com algumas outras músicas não foi assim, como Wake Up Dead Man na qual Bono estava bem entusiasmado.
Isso, foram algumas músicas que não deram certo, mas penso eu, um dia verão a luz do dia em algum momento. Essa nunca foi terminada. Nós fizemos um mix para concluí-la e só aí percebemos que tinha problemas estruturais, mas que a música em si não estava lá. Me senti desconfortável e a deixamos. Outra foi If God Will Send His Angels e If I Should Ever Lose Control.

Durante a turnê Americana, você estava escrevendo regularmente e experimentando novos materiais nas passagens de som, então sua criatividade está fluindo direto para fazer o Zooropa: você está saciado?
É engraçado porque começamos com essas sessões de composição com uma mente bem formal, usando frontes vincadas e trabalhando com sequencias de acordes e conversando sobre estrutura. Mas quando Brian chegou – eu acho que porque ele sentiu que estávamos perdendo parte da singularidade da banda e nós não tínhamos muito tempo – ele sugeriu que abandonássemos as composições formais e voltássemos ao nosso jeito original de escrever músicas, entrando na sala e improvisando.

Com Brian no comando do quadro negro, a cargo de incentivar comentários e sugestões de som, nós fomos para as salas de ensaio e tocamos por uma semana, experimentando ideias e acabamos com nove horas de coisas boas. Muitas ideias começariam e terminariam em um minuto, o que não nos incomodava e algumas improvisações tinham cerca de quinze minutos, então não era como se tivéssemos nove horas de pequenas jams... mas disso, começamos a trabalhar neste pedaços e surgiu ‘Dirty Day”, o começo de ‘Some Days’, a introdução de ‘Zooropa’ e possivelmente ‘Crashed Car’.

Enquanto o álbum foi sendo elogiado pela sua espontaneidade da sua distância do “som do U2”, uma faixa como Lemon deve ser a mais “não U2” do disco?
Sua encarnação original foi uma improvisação em uma passagem de som e mantivemos a parte do piano e as estruturas básicas dos acordes e colocamos um baixo novo e uma abordagem rítmica nova, mas ainda ficou tropeçando por um tempo. Nós tínhamos duas direções melódicas possíveis que nós gostamos – a original e esse tipo novo de vocal diva-on-acid do Bono. Nós realmente não sabíamos que caminho seguir e Brian fez a sugestão simples mas lógica que nós tentamos encaixar ambas. E tivemos sugestões para as palavras de ambas as abordagens.

Brian disse que essa melodia reta poderia ter um bloco vocal, então nós deveríamos tentar não somente uma voz mas um bloco de vozes e isso tornou o refrão 'A man makes a picture, a moving picture'  e a outra ideia de vocal lírico se encaixou ao lado. Então, Bono puxou a letra de Lemon e a editamos e é uma das minhas letras preferidas do disco. Trata da linha tênue entre ser muito forte no imaginário e no evocativo, e ao mesmo tempo, insinuando a uma forte ideia coesa por debaixo.

The First Time parece uma releitura da parábola do filho pródigo, mas desta vez dividida com a incerteza em manter o sentimento de todo o álbum – ele voltou pra casa ou não?
Eu sempre pensei nessa letra em como tocar nesses temas desde o nosso primeiro disco, quase como ‘I Will Follow’. Há um senso de amor incondicional e a resposta ao amor incondicional é quase o oposto do que você pode imaginar.

Você foge em vez de ir a isso.
É isso mesmo e talvez seja essa a resposta as vezes. Bono começou a escrever em Los Angeles e ele e eu estávamos trabalhando nela para o Al Green. Nós começamos com três músicas e escolhemos uma para Al, mas eu não sei se ele vai gravar. ‘The First Time’ é uma que nós decidimos que íamos gravar nós mesmos. É quase um roteiro de filme, começando com os personagens e o cenário e a situação. Nós ainda não tínhamos certeza até gravarmos a música, na qual ele estava indo terminar a história.

Stay soa muito com o U2 que já conhecemos.
Começou com uma sequencia de um acorde acústico pequeno que trabalhamos no Achtung Baby e Bono tinha essa melodia, mas ela nunca decolou. Eu a reescrevi quando começamos com este álbum e coloquei guitarra e uma bateria eletrônica. Eu estava quase tentando escrever uma música do Frank Sinatra, tem algumas mudanças de acordes e eu estava indo para alguma disciplina daquela forma de composição que é muito estruturada e muito trabalhada. Provavelmente por isso soa mais como uma música formal do U2.

A faixa título em si é como um sermão pós-moderno, se não é uma contradição.
É quase uma colagem de palavras, palavras de propaganda cortadas, é realmente a forma das palavras que são supostamente para evocar uma determinada memória que é importante. A coisa mais estranha é o jeito que começa pra se tornar uma espécie de euro- manifesto. Minha frase favorita é: We're mild and green and squeaky clean'.  Pegando jargão publicitário, você começa a ter uma visão sobre a cultura da publicidade que a produziu.

Você fizeram o álbum consideravelmente rápido, sendo que é o U2?
Parece rápido mas eu acho que o que foi rápido foi a fase de composição. Geralmente nos toma a maior parte do tempo no estúdio para chegar num lugar musicalmente e sonoramente que nós estamos inspirados.

Parece que a identidade do álbum veio rapidamente.
Quase tão marcante quanto a rapidez, foram as resenhas quase que universalmente brilhantes.
É sempre bom receber boas críticas, mas não deixamos que os críticos ditem nossa opinião do nosso trabalho. Não é que a gente está acima disso, mas você percebe que o crítico tem sua própria agenda e você se encaixa em um determinado lugar em sua própria visão do que a música deveria ser, então resenhar é uma coisa extremamente subjetiva.

Parece que alguns críticos renovaram suas opiniões sobre a banda, mas não tomamos isso de forma pessoal quando recebemos críticas ruins porque é uma opinião pessoal.

(Continua)

Fonte: U2.COM

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